«O meu olhar é nítido como um girassol»
















    O meu olhar é nítido como um girassol.
    Tenho o costume de andar pelas estradas
    Olhando para a direita e para a esquerda,
    E de vez em quando olhando para trás...
    E o que vejo a cada momento
    É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
    E eu sei dar por isso muito bem...
    Sei ter o pasmo essencial
    Que tem uma criança se, ao nascer,
    Reparasse que nascera deveras...
    Sinto-me nascido a cada momento
    Para a eterna novidade do Mundo...

    Creio no mundo como num malmequer,
    Porque o vejo. Mas não penso nele
    Porque pensar é não compreender...

    O Mundo não se fez para pensarmos nele
    (Pensar é estar doente dos olhos)
    Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

    Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
    Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
    Mas porque a amo, e amo-a por isso
    Porque quem ama nunca sabe o que ama
    Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

    Amar é a eterna inocência,
    E a única inocência não pensar...

    Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914
Imagem: risco4.wordpress.com, acedido a 26 de Março de 2008.

1 comentários:

SuEli disse...

Boa Noite,
Não conhecia esta poesia.
Lindíssima.
Se a escolheu é porque ela deve revelar sua sensibilidade e sua beleza interior.
Prazer em conhecê-lo,
Tenha uma abençoada noite,
Fique com Deus,

Referências Bibliográficas

  • Manual do Guerreiro da Luz de Paulo Coelho
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